terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

João Saldanha

João: “A vida é o que a gente pode tirar da vida”


Fonte: Rui Moura - Mundo Botafogo/Estrela Solitária
Postagem original: http://mundobotafogo.blogspot.com/search/label/memorial%20j.%20saldanha



por Raul Miller

“João, que, quando convidado para ser técnico da Estrela Solitária, não aceitou receber salário do time do seu coração, ‘pois só assim posso fazer o que quiser sem me encherem a paciência’.”

“João, que não rejeitava uma parada em nome de seus princípios: ‘minhas ideias valem mais do que minha conta bancária’.”

“João, que, como técnico da seleção brasileira, nunca deixou de denunciar aos quatro cantos as torturas e assassinatos no Brasil em tempos de ditadura militar.”

“João, que dizia que ‘a vida é o que a gente pode tirar da vida’. João, que saiu da seleção bem a seu estilo, estranhando e ironizando João Havelange, que, um dia antes de demiti-lo, o abraçara efusivamente. ‘Se eu não gostasse tanto da minha mulher, casava com ele’.”

“João, que por não ter papas na língua, muitas vezes metia os pés pelas mãos e que podia ser acusado de tudo, menos de não ser verdadeiro nas esquinas de sua vida.”

“João, que teve em uma declaração de Garrincha talvez o maior elogio que recebeu: ‘Seu João deixa (…) a gente jogar o que sabe. Nasci na roça e aprendi a jogar futebol espontaneamente. Não sei receber instruções. Sinto que eles sempre envenenam o meu jogo. Quando eu vim para o Botafogo era um pouco tarde para corrigir esse erro. Como eu não gostava de parecer indisciplinado, tentava cumprir as determinações do técnico. Misturava isto com o que eu tenho de natural, mas nunca deu certo. (…) Seu João mostra os erros mas sempre adverte: se vocês acharem que meu conselho não está certo, podem mudar o jogo. Quem está lá dentro sabe mais das dificuldades. O fato concreto: com seu João eu jogo o que está dentro de mim’.” (Roberto Assaf, Banho de bola, citando entrevista de Mané Garrincha a Ney Bianchi)

“Campeonato carioca de 1971. Botafogo x Fluminense. (…) 43 minutos do segundo tempo. (…) Gol ilegal do Fluminense, com o goleiro Ubirajara do Botafogo sendo empurrado a meio metro do juiz José Marçal. Flu campeão. Em seu comentário final, possesso, João Saldanha disse: ‘Este campeonato foi decidido ali, entre o bebedouro e o mictório. Haja naftalina para tanto fedor.’

“Quando lhe passaram a palavra [durante uma mesa redonda na televisão após o Botafogo conquistar o campeonato de 1967 contra o Bangu e com Manga sob suspeição de estar na “gaveta” do presidente do Bangu, Castor de Andrade], Saldanha voltou à carga. ‘Este senhor Castor de Andrade, bicheiro, contraventor em várias frentes de suas atividades, tenta estender o seu poder para o futebol. Mas o futebol derrotou o senhor Castor, que por incrível que pareça já foi, inclusive, chefe de uma delegação da seleção brasileira em viagem ao exterior, a convite da CBD. O senhor Castor, além de responsável por esta atuação suspeita do goleiro Manga, cometeu a covardia de contratar espancadores contra torcedores do Botafogo. Muita gente me aconselhou a não dizer isto. Mas saiba este senhor que não tenho medo. É só escolher. Terreno baldio no mano a mano, sou mais eu. Se preferir topo revólver ou o que ele quiser…’ Pouco depois Castor invadiu os estúdios da TV Globo com seguranças armados. O programa saiu do ar e o tempo fechou. Em 1980, Castor de Andrade, em entrevista a Marcelo Rezende e Milton Costa Carvalho da revista Placar, abriu o jogo: ‘Eu com duas máquinas na mão. Foi um corre-corre danado.” Castor vai contando e rindo, se diverte muito. ‘Pois bem: o homem é macho, me enfrentou’.”

“Quando foi editado o Ato Institucional número 5 (AI 5), Castor e vários banqueiros de bicho foram presos. Chamaram, João para fornecer provas contra o patrono do Bangu. Recusou-se terminantemente. ‘Não sou dedo-duro e nem vou colaborar com essa ditadura’, disse à época. Assim era João”.

“Vida que segue”.

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O presidente do Brasil, Lula da Silva, e o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, com a participação de familiares de João Saldanha, inauguraram ontem, dia 21 de Dezembro, junto à Calçada da Fama no Estádio do Maracanã, uma estátua de homenagem ao jornalista e famoso botafoguense João Saldanha (foto acima de Cezar Loureiro / Agência O Globo).

PARABÉNS, JOÃO SALDANHA, MEU ÍDOLO!

Imagem: Sítio Oficial do Botafogo


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João Saldanha na Wikipédia


João Alves Jobin Saldanha (Alegrete, 1917 — Roma, 12 de julho de 1990)

Saldanha nasceu em Alegrete no estado do Rio Grande do Sul, mas mudou-se para o Rio de Janeiro quando tinha catorze anos. Seu apelido era João Sem Medo e jogou futebol profissionalmente por uns poucos anos no clube carioca do Botafogo. Ele estudou jornalismo e se tornou um dos mais destacados escritores de esportes, antes de se tornar comentarista no radio e na televisão. Como um jornalista esportivo, ele freqüentemente criticava jogadores, técnicos e times de futebol, e foi um membro do Partido Comunista Brasileiro.


Botafogo

Em 1957, o Botafogo o contratou como seu técnico, apesar de sua total falta de experiência. O clube ganhou o campeonato estadual daquele ano. Em 1969, ele foi convidado a se encarregar da seleção nacional. O Presidente da CBD - Confederação Brasileira de Desportos, João Havelange alegou que o contratou na esperança de que os jornalistas fizessem menos críticas à seleção nacional, tendo um deles como técnico.


Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970

Na Copa do Mundo de 1966, uma das principais críticas da imprensa era a falta de um time base. Saldanha tentou resolver esse problema e convocou um time formado em sua maioria por jogadores do Santos e do Botafogo, os melhores clubes da época; e os conduziu a 100% de aproveitamento em seis jogos de qualificação (Eliminatórias). De uma frase sua, que teria dito que convocaria somente “feras”, surgiu a expressão As feras do Saldanha para designar aquela seleção. Graças ao seu trabalho, a seleção brasileira reconquistaria a auto-estima e a confiança do torcedor, que tinha perdido depois da pífia campanha na Copa do Mundo de 1966.


Apesar das vitórias, Saldanha foi publicamente criticado por Dorival Knipel, o Yustrich, treinador do clube carioca Flamengo. Saldanha respondeu ao confronto brandindo um revólver. Também havia rumores de que não entendia de preparação física, havendo alguns desentendimentos com a comissão técnica sobre a condução dos treinamentos.

Há uma convicção comum entre os brasileiros que Saldanha foi enfim retirado do comando da seleção por causa da sua negativa em selecionar jogadores que eram indicados pessoalmente pelo presidente Emílio Garrastazu Médici, em particular o atacante Dario Maravilha. Saldanha teria dito: “Quem escala a seleção sou eu, quando o presidente escalou o seu ministério ele não pediu a minha opinião”. O último atrito foi quando o auxiliar-técnico pediu para sair da seleção, dizendo que era impossível trabalhar com Saldanha. Saldanha foi demitido e, depois de uma tentativa de se contratar Dino Sani, ele foi substituído por Mário Zagallo, ex-jogador de futebol e ganhador de duas copas: Copa do Mundo de 1958 e Copa de 1962.

Jornalismo

Saldanha retornou ao jornalismo depois deste episódio, e continuou a criar algumas das mais famosas citações da história do futebol brasileiro, como: “O futebol brasileiro é uma coisa jogada com música”. Ele morreu em Roma em 1990, onde foi cobrir naquele ano a Copa do Mundo para a Rede Manchete.

Fonte: Wikipédia


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Link para o livro: Já Cotei