terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Carlito Rocha: mitos e ritos no Glorioso

Fonte, pesquisa e montagem: Rui Moura - Mundo Botafogo/Estrela solitária
Postagem original: http://mundobotafogo.blogspot.com/2009/10/carlito-rocha-mitos-e-ritos-no-glorioso.html



Carlos Martins da Rocha, o ‘Carlito Rocha’, nasceu em 1894 e faleceu em 1981, com 87 anos de idade. Carlito foi um dos maiores botafoguenses de todos os tempos.

O jogador, treinador e dirigente do Botafogo (e às vezes árbitro) nasceu no ano da fundação do Clube de Regatas Botafogo e defendeu a camisa do Botafogo Football Club durante a sua juventude.

Carlito era tão arrebatado pelo Botafogo que, em 7 de Setembro de 1918, entrou em campo para enfrentar o América, embora estivesse acometido de pneumonia e sob intensa febre. O resultado foi passar ao estado de coma assim que o jogo terminou e permanecer um longo período em convalescença.

Foi atleta exemplar, treinador do clube e dirigente, atingindo o seu clímax ao conquistar o título carioca de 1948 na qualidade de presidente do clube. Carlito Rocha recebeu todos os títulos e homenagens que o clube outorga aos seus maiores torcedores. Lenda botafoguense quase desde o início do Botafogo Football Club, Carlito Rocha foi jogador campeão carioca pelo Botafogo em 1912, treinador campeão carioca em 1935 e presidente campeão carioca em 1948!

De Carlito Rocha contam-se milhentas histórias de superstição. Presidente do Botafogo de 1948 a 1951, obrigava os jogadores a tomarem gemada antes das partidas e foi o grande líder da conquista do Campeonato Carioca de 1948.

Carlito Rocha foi, sem dúvida, o iniciador das crendices e superstições botafoguenses, quando fez do célebre Biriba o mascote do clube e quando, em dias de jogos, para afastar a má sorte, mandava dar nós nas cortinas da sede do clube. Tudo começou quando a equipa de reservas do Botafogo venceu o Madureira por 10x2, No décimo gol, o cãozinho invadiu o campo. Para o supersticioso presidente foi um sinal.

Em 1948 o Biriba foi a todas as partidas do Botafogo no campeonato. Carlito achava que o cachorro dava sorte e ninguém conseguia barrar o animal nos estádios. A diretoria do Vasco tentou impedir a entrada de Biriba em São Januário, mas Carlito colocou o cachorro em baixo do braço e desafiou:

– “Ninguém impede o presidente do Botafogo de entrar onde quer que seja e quem estiver com ele entra, com certeza”, garantia Carlito Rocha.

Em 1938, na inauguração do Estádio de General Severiano, ao ser perguntado sobre o que significava para o clube e para os seus torcedores o estádio, Carlito Rocha, então director técnico, mas já considerado o maior dos botafoguenses à época, disse:

– “Contemplo o maior sonho da minha vida. Quero o Botafogo lutando sempre, progredindo como merece, pois ele representa, no esporte do Brasil, uma de suas mais belas afirmações”.

Algumas das superstições de Carlito Rocha são narradas nos seguintes artigos do blogue: Carlito Rocha, superstição pura, Carlito Rocha e os tónicos, Carlito Rocha e as cortinas da sede, Carlito Rocha e o Dolabela, Carlito Rocha e o Biriba. (O Arquivos do Biriba também sugere a leitura do artigo Carlito Rocha e Aloísio Roupeiro).

Finalmente, a propósito da final de 1957, Carlito Rocha mereceu, do tricolor Nelson Rodrigues, a seguinte coluna:

O DEUS DE CARLITO ROCHA

por Nelson Rodrigues

O Deus de Carlito Rocha… Chegou, enfim, o momento de fazer de Carlito Rocha o meu personagem da semana. Quer queiram, quer não, ele está atrelado ao fabuloso triunfo alvinegro sobre o Fluminense. E aqui pergunto: Qual teria sido a contribuição carlitiana para o título? E eu próprio respondo: Carlito ligou o jogo ao sobrenatural, pôs Deus ao lado do Botafogo e, mais do que isso, pôs Deus contra o Fluminense.

E, com efeito, três ou quatro dias antes do clássico, um jornalista foi provocar o velho Rocha. Ora, o Carlito nunca teve meias medidas, nunca! Bastaram duas ou três perguntas estimulantes para que dentro dele rugisse a imortal paixão botafoguense. Disse ele que Deus viera anunciar-lhe a vitória do Botafogo Um vaticínio divino é algo mais do que um palpite de esquina. No entanto, vejam vocês, nem o jornal que publicou a reportagem, nem o leitor, nem a torcida, ninguém acreditou nem em Carlito, nem na visão, nem mesmo em Deus. As declarações do velho Rocha, tão honestas e incisivas, pareceram a nós, impotentes da fé, uma simples e cruel piada de jornal. E um amigo, pó-de-arroz como eu, veio perguntar-me: ‘Viste o Deus de Carlito?’ Eu não tinha visto o jornal ainda, mas as palavras do meu amigo ficaram ressoantes em mim. ‘Deus de Carlito...’ E, subitamente, eu compreendi o seguinte: não há um Deus geral, não há um Deus de todos, não há um Deus para todos. O que existe, sim, é o Deus de cada um, um Deus para cada um. Por outras palavras, um Deus de Carlito, um Deus do leitor, um Deus meu e assim por diante. Graças ao Carlito criava-se uma relação entre o Botafogo e o sobrenatural e o clássico decisivo passava a adquirir um pouco de eternidade.

Veio o jogo. Com a nossa impetuosidade tínhamos da batalha uma visão crassamente realista: só cuidávamos dos aspectos técnicos, tácticos e físicos. Eu próprio vivia perguntando, a um e a outro, na minha aflição de pó-de-arroz: O Leo joga? O Leo não joga? Em suma, pensava em Leo, em Pinheiro, em Cacá ou Valdo. Mas não chamava o meu Deus. Ao passo que o velho Rocha sabe o quanto acrescenta a qualquer pelada do Botafogo a dimensão da sua fé. Eu não vi, nem ouvi, durante toda a semana do jogo, um tricolor falar em Deus. E porquê? Pelo seguinte: achamos que Deus não se interessa por futebol, portanto, nós o excluímos das atribuições da nossa torcida. Domingo nunca houve um clube tão sem Deus como o Fluminense. Ora, nenhum brasileiro consegue ser nada, no futebol ou fora dele, sem a sua medalhinha de pescoço, sem os seus santinhos, sem as suas promessas, e numa palavra, sem o seu Deus pessoal e intransferível. É esse místico arsenal que explica as vitórias esmagadoras. Portanto, os motivos, eu acredito piamente, na contribuição de Carlito para o perfeito, o irretocável triunfo alvinegro. E de resto, como não gostar do Deus do velho Rocha? Deus tão cordial, íntimo, terno, que se incorporou à torcida botafoguense e viveu com a torcida botafoguense aqueles eternos noventa minutos.

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CARLITO: O MAIOR DOS SUPERSTICIOSOS



Fonte, pesquisa e montagem: Paulo Marcelo Sampaio/Arquiba Botafogo
Postagem original:
Carlito, o maior dos supersticiosos!

Por Geraldo Romualdo da Silva
Fotos de Theopompo do Amaral

Costumam dizer que Carlito é o Heleno dos paredros. No fundo não deixa de haver uma certa semelhança entre o presidente que não calça mais chuteiras e o crack que insiste em calçá-las. Pelo menos na agitação dos problemas de cada um.

É preciso, entretanto, conhecer bem Carlito, sobretudo conhece-lo na intimidade, para estabelecer a diferença que o separa do Heleno atleta, e até do Heleno doutor. A principiar pelo seguinte: quando Carlito moureja, moureja de verdade. Quando dá duro, dá duro sem descanso. E quando luta, luta sem desfalecimento. Emendando noite com dia e os dias às noites. Numa espantosa e nunca igualada atividade. Numa espantosa e nunca igualada convicção de suplantar-se.

O CRENTE E O DESCRENTE

Homem dos extremos, tanto comete uma violência como faz uma boa ação. Em geral, mesmo nos momentos culminantes de suas crises e dos conflitos que sustenta, expõe teses brandas, torna-se o mais pacífico dos mortais, o mais humano dos amigos. É um turbilhão. Ou projeta-se no espaço com a fúria dos vendavais, ou cai serenamente na complacência e na contemplação. Não chega, é claro, a ser um contemplativo, mas sabe humanizar-se, e quando se nivela aos mais simples, aos sem problemas, transforma-se no mais encantador dos homens.

Católico praticante, tem por princípio não colocar nada acima de sua devoção nem nada acima de seus santos prediletos. O homem curtido pelas intempéries que a vida reservou-lhe, jamais deixou de estar bem e em dia com os deuses de sua proteção. É de uma fidelidade ilimitada aos princípios cristãos nos quais se criou e com o estímulo dos quais se fez homem. Contam seus companheiros de infância que assim é desde a meninice. Uma bomba de explosão imediata. Um vulcão. Mas bom amigo. Bom coração. Grande coração.


QUIS DOIS CLUBES, MAS SÓ SE ENTREGOU A UM

Contemporâneo de Luiz Menezes e do Brigadeiro na fase das segundas letras, chegou a ser preferido dos colegas e o filho privilegiado da velha e nobre família Martins da Rocha. Mas, assim agitado como era, querendo fazer tudo ao mesmo tempo – ser doutor em leis, doutor em medicina, atleta e conselheiro – acabou valendo unicamente da prática para tocar a vida. Tornou-se industrial, um tanto por inclinação e um pouco por herança. Entretanto seus desígnios maiores e a sua principal tendência estavam situados mais além dos escritórios e dos teares. Estavam nas canchas e nas pistas líquidas que imaginariamente iam de uma ponta a outra da baía.

Fez-se nas duas bandas que mais o emocionaram e que mais o despertaram para as brigas esportivas: remando pelo Guanabara e jogando futebol pelo Botafogo. Quis os dois com paixão. Sinceramente. Como uma continuação de seu querido lar. Mas só a um entregou-se de corpo e alma para o resto da existência. Só a um, quando chegou a vez, entregou aquilo que mais caro possuía – a saúde: ao velho Botafogo. Que tem sido em todas as conjunturas e em todos os instantes de sua ruidosa correria, verdadeiramente, o seu ideal supremo. O seu todo. O seu filho e a sua casa.

DESDE AQUELES TEMPOS DE GOAL-KEEPER

No Botafogo, assim como no Guanabara, pregou revoluções e fez revoluções. Não faltou a um único grito de abaixo as tiranias, ainda que em favor da sua própria ditadura. A questão é que não parou. Desde o “far-west”, que conturbou por muitos meses a tranqüilidade do Botafogo, até acontecimentos mais transcedentais, a exemplo da cisão que tomou de assalto violento todos os esportes do país. A maior crise que sacudiu durante tantos anos o futebol brasileiro teve-o à frente, de bandeira e rifle na mão. Era, na peleja dos gabinetes, aquele mesmo Carlito de outros e passados tempos. Só Botafogo. Com o Botafogo, onde estivesse o Botafogo. Errado ou certo. Mas Botafogo.

O Botafogo tornou-se seu escudo. A sua arma de combate. O seu eu. Absorvendo-lhe tempo, dinheiro, paciência – a vida inteira.


AS DUAS ÚNICAS ASPIRAÇÕES

Cessada a luta e outra vez em paz com os generais da banda contrária, vamos encontrá-lo tentando ser técnico, depois de haver sido arqueiro, center-half, agitador e meio dono de General Severiano. Até que, por dissenções internas, simples desentendimento entre pessoas da mesma família, bateu-se em retirada, ocultou-se para surgir meses depois na direção da Federação Fluminense, fazendo jogadores, conseguindo triunfos. Mandando e desmandando.

Andava lá, mas a pensamento, a idéia-fixa estava em Wenceslau Braz. Ronda o Botafogo. Porque o Botafogo era a sua meta de chegada. O seu “ápice do clímax”. Se presidente, um sonho quase longínquo., muito que bem. Melhor ainda. Mas, sempre, e em qualquer circunstância, “patrão” do team. Senhor absoluto do team. Técnico e conselheiro dos jogadores. Orientador deles fora e dentro de campo.

Uma coisa é profundamente certa e inquestionável: Carlito jamais abriu mão desse direito. Do direito de ser técnico, ainda que titular da presidência.

ACONTECE O ALMEJADO

Com a renúncia do Adhemar Bebiano da direção alvinegra, convocou-se uma assembléia dos “grandes”, a fim de que a extra-oficialmente fossem apreciados os acontecimentos, antes que a Assembléia se manifestasse sobre a pessoa que deveria arcar com a responsabilidade de governar o clube. Carlito estava presente. E foi, com efeito, o único dos “cartolas” que concordou plenamente em aceitar o cargo com todos os ônus que ele pudesse acarretar.

Nesse ano, para espanto geral, tanto mais que o team começara o certame perdendo para o São Cristóvão, chegou à frente dos demais competidores, realizando façanha memorável para o presidente – técnico e presidente – para si também, é lógico, e até para o inofensivo Biriba, que se tornou uma das sensações mais emocionantes do inesquecível campeonato de 1948.

UM GRANDE BENEFÍCIO AO FUTEBOL BRASILEIRO

Animado pelos feitos de sua estréia como presidente (e inegavelmente, indiscutivelmente técnico também), tornou-se bom, terno, calmo e visionário de coisas mais românticas, mais belas e mais úteis para o futebol nacional. Aí trouxe o Southampton, o primeiro clube britânico a visitar o Brasil desde o Motherwell e o Chelsea. Para, em seguida, num salto ainda mais espetacular, alcançar o que sempre desejamos ver, mas o que sempre nos pareceu difícil: a vinda do grande Arsenal, o Arsenal de todos os campos do mundo.

Impossível desmerecer esse trabalho talentoso, tantos esforços dispendidos para a vinda do Arsenal. O Arsenal deu alma nova ao futebol brasileiro. Colocou-nos mais próximo da realidade do verdadeiro futebol praticado pelos mestres de fato, dando-nos ensejo de superá-los na segunda visita.

A segunda visita dos “gunners”, pouco compreendida por alguns, lamentavelmente criticada por outra parte, rendeu-nos em boa hora a certeza de que estamos de fato evoluindo: certeza que varreu todas as dúvidas porventura existentes depois que vimos o Portsmouth. Ainda graças a ele, Carlito, esse turbilhão de movimento, esse gênio da agitação.


LUTAS, LUTAS, LUTANDO SEMPRE

É quase impossível enumerar as porfias que travou nesse intervalo de temporadas e conquistas isoladas. Prometeu deflagrar guerra aos antigos dirigentes da entidade. E deflagrou. Prometeu deflagrar guerra ao Conselho Nacional de Desportos. E deflagrou. Prometeu colocar as irradiações denro do plano econômico dos clubes – e aí está de martelo em punho –quase que sozinho a agüentar no leme das variações a intransigência dos princípios desfraldados, coerente, porém, com o seu ponto de vista de que precisará existir um meio termo entre a publicidade e as instituições profissionais, antes que essas instituições faleçam por falta de dinheiro e por falta de cabeça. A grita está no ar. Ecoou por todas as latitudes. Mas ele continua sereno, severo e firme em sua afirmação anterior. E já avisou: “Eu posso permanecer sozinho, mas não importa. O que importa é que a pedra já foi abalada, ribanceira abaixo, de sua estabilidade perigosa. Um dia os clubes me darão razão. É bem possível que esse dia chegue mais tarde para alguns.

- O que importa – diz e torna a repetir – é que a vida siga o seu caminho e os homens, cada qual o seu destino. O resto é malhar em ferro frio.

Nova batalha foi travada. Agora, a “batalha da economia”. A batalha contra o rádio. Vale a pena esperar para ver se “Napoleão” conseguirá passar por mais este “Waterloo”.


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Carlito Rocha e os tónicos


Fonte e pesquisa: Rui Moura - Mundo Botafogo/Estrela solitária
Postagem original: http://mundobotafogo.blogspot.com/2007/12/carlito-rocha-e-os-tnicos.html


Enquanto foi presidente do Botafogo, Carlito Rocha teve épocas que, em General Severiano, dava mel na boca dos jogadores para os tornar mais fortes. Noutras épocas, Carlito optava por dar-lhes gemada também para os fortificar.

Mas uma das mais sofisticadas estratégias de Carlito refere-se à tentativa de evitar que os jogadores tomassem bebidas alcoólicas.

Treinando a Selecção Carioca, Carlito descobriu que os atletas tomavam doses cavalares de cachaça num botequim próximo do local de treino. Então, apareceu com um punhado de mangas, rosadas e carnudas, dizendo aos jogadores que comessem à vontade, porque faziam bem à saúde e aumentavam a resistência física.

Depois da comilança fez apenas uma recomendação, ao mesmo tempo que derramava cachaça sobre um pedaço da fruta, a qual escureceu imediatamente: “A fruta faz bem, mas não esqueçam que, se misturada com cachaça, faz um mal terrível. Vejam só com que cor esta ficou”.

Carlito inspirou-se, quase seguramente, na conversa dos senhores de escravos que, outrora, para os controlarem diziam que “manga com cachaça seria morte certa”. Porém, no dia seguinte, ninguém tocou nas frutas.

Fonte principal
http://fotolog.terra.com.br/luizd:354
http://www.futebolimaginario.com.br/index.php?sec=historiaFutebol&opc=historiasPitorescas
http://www.gargantadaserpente.com/veneno/ivanicunha/02.shtml



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Carlito Rocha e as cortinas da sede


Fonte e pesquisa: Rui Moura - Mundo Botafogo/Estrela solitária
Postagem original:
http://mundobotafogo.blogspot.com/2007/12/carlito-rocha-e-as-cortinas-da-sede.html

Carlito Rocha tinha o hábito de amarrar as cortinas da sede de General Severiano em dias de jogos do Botafogo. No entanto, certo dia Carlito estava assistindo ao jogo entre Botafogo e Madureira e o primeiro tempo terminara em 0x0. Carlito estava desesperado, especialmente porque a equipa jogava mal, e foi correndo à sede de General Severiano para verificar as cortinas. Chegando lá deparou-se com um faxineiro a desamarrar as cortinas. Carlito amarrou-as novamente, voltou para o estádio e o Botafogo venceu o Madureira por 6x0.

Noutra partida do campeonato de 1948, em que o Botafogo era surpreendentemente derrotado pelo Olaria por 3x1, Carlito deduziu que o fracasso só podia ser obra das cortinas. Como ele as mantinha permanentemente enroladas e presas por um nó, pediu a Aloísio, o seu assessor para assuntos de ‘mandinga’, que fosse à sede do clube para conferir o estado das cortinas. Aloísio pegou um táxi, dirigiu-se a General Severiano, retornou ao local da partida, e cinco minutos antes do término, com o placar já em 3x3, disse: “As cortinas estavam desamarradas. Foi aquele empregado novo, ele não sabia que...”. Mas Aloísio não terminou a explicação, porque Carlito afirmou: “Não importa. Agora sei que vamos ganhar”. E a um minuto do fim o Botafogo marcou o gol da vitória (4x3).

Fonte principal
http://www.futebolimaginario.com.br/index.php?sec=historiaFutebol&opc=historiasPitorescas



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Carlito Rocha e o Dolabela

Fonte e pesquisa: Rui Moura - Mundo Botafogo/Estrela solitária
Postagem original: http://mundobotafogo.blogspot.com/2007/12/carlito-rocha-e-o-dolabela.html


Em termos de superstições existe uma manifestação contrária à sorte, bastante temida no futebol, conhecida por ‘pé-frio’. O ‘pé-frio’ corresponde a uma pessoa que traz azar, que onde se encontra tudo corre mal. À medida que uma superstição destas se concretiza, a pessoa que transporta o azar é evitada e a distância é a forma de neutralização do mal.

Um dos grandes ‘pés-frios’ do futebol foi Dolabela, antigo torcedor do Botafogo, sobre o qal se contam histórias inacreditáveis. Milton Coelho, por exemplo, refere que durante um jogo Botafogo x Vasco da Gama, o goleiro Barbosa pariu uma perna logo aos cinco minutos de jogo. A situação não teria nada de especial se Dolabela não tivesse, antes do jogo, batido no ombro do jogador dizendo: “Vê lá se hoje vais fechar o gol contra nós”.

Milton Coelho ainda relatou outra situação: “Noutra ocasião, um jogador, Rubens Bravo, bateu um penalti para as nuvens e o Botafogo perdeu o jogo. O supersticioso número um do clube, Carlito Rocha, resolveu falar com o jogador, pois estava certo que aquilo era coisa feita: - ‘Seu Bravo, aquele penalti, houve coisa misteriosa. O que foi que você fez antes do jogo?’ O argentino estranhou, mas foi logo contando tudo desde que acordara, o que comera, a roupa que vestira, até que disse: - ‘Todavia um cabellero gordito me llevo ao estádio.’ – ‘Gordito?’ – Interrompeu Carlito – ‘Não diga mais nada seu Bravo, não diga o nome dele, senão nunca mais acerta um chute.’ Era o Dolabela...”

Fonte principal
[in Thelma Linhares, “Superstições no futebol brasileiro”, em http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/historia/0027.html]



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Carlito Rocha e o Biriba


Fonte e pesquisa: Rui Moura - Mundo Botafogo/Estrela solitária
Postagem original: http://mundobotafogo.blogspot.com/2007/12/carlito-rocha-e-o-biriba.html


O Biriba, cachorro do ex-zagueiro Jamyr Sueiros, o Macaé, adoptado por Carlito Rocha, constitui, porventura, a primeira grandiosa manifestação de um clube altamente supersticioso. O fenómeno ocorreu quando a equipa de reservas do Botafogo venceu o Madureira por 10x2. No décimo gol, um cãozinho preto e branco invadiu o campo e o supersticioso Carlito Rocha, então presidente do clube alvinegro, considerou que fora um sinal.

Há outra versão de Milton Coelho que diz que por ocasião de uma partida entre aspirantes do Botafogo e do Bonsucesso, Macaé levou o seu cachorro ao jogo e ele atrapalhou o goleiro adversário, que não pôde defender o gol. E foi por isso adoptado por Carlito Rocha.

Desde aí, o Biriba acompanhava sempre a equipa e era um verdadeiro amuleto de sorte. Carlito nem admitia que o Botafogo perdesse com a presença do Biriba, e a verdade é que após a primeira derrota para o São Cristóvão no campeonato, por 4x0, o Botafogo não mais perdeu e tornou-se campeão. O pequeno animal tinha lugar privilegiado no banco de reservas da equipa, participava das comemorações dos gols, entrava nas fotografias da equipa e era mascote oficial.

Os convites para o Botafogo excursionar, após a conquista do campeonato de 1948, incluíam sempre o Biriba e certa vez o Botafogo foi jogar um amistoso contra o São Paulo no Pacaembú. A exigência era que a equipa estivesse completa, o que incluía o Biriba. Porém, o cãozinho foi barrado na estação ferroviária, tendo sido determinado que viajasse em compartimento especial. O presidente exigia um lugar de passageiro comum, o que foi aceite após muita insistência, desde que o animal pagasse passagem. Como não queria gastar mais dinheiro, Carlito resolveu colocar Biriba no lugar do meia-esquerda Baduca, cuja bagagem foi retirada de bordo e o cartão de embarque transferido para o Biriba. Barrado por um cachorro, Baduca encerrou a carreira naquele momento.

Biriba era personagem tão importante que, em certa ocasião, a directoria do Vasco da Gama tentou impedir a entrada do cachorro em São Januário, mas Carlito Rocha colocou o animal debaixo do braço e desafiou:

“Ninguém impede o presidente do Botafogo de entrar onde quer que seja e quem estiver com ele entra, com certeza.” - E entrou com o Biriba debaixo do braço.

O Biriba ainda hoje permanece no imaginário botafoguense, sendo muito frequente que o Botafogo seja representado por um cachorro. O cãozinho mágico ilustra imensos livros sobre o Botafogo e sobre o futebol. O paulista Vicente Cascione relembra essa magia registada na sua infância:

“O futebol semeou imensas nostalgias que hoje ainda despontam intensamente em mim, apesar do largo tempo vivido. (…) Certa vez veio ao velho estádio da Vila, o Botafogo, do Rio. Trouxe Pirillo e o novato Santos, anos depois transformado num enciclopédico Nílton Santos. O Botafogo trouxe Biriba, o cãozinho mascote, que ingressou com o time no gramado e deu uma volta olímpica saudando os enternecidos torcedores. Ele tinha as cores do clube. O menino, na cabine, ouviu o pai descrever a cena que o encheu de encantamento e o marcou para sempre: a entrada de Biriba e sua corrida em torno do gramado. Nunca mais o vi. Mas repeti muitas vezes esse momento nítido que jamais se dissipou em minha lembrança” [texto completo em A Tribuna, suplemento AT Revista, 22 de Janeiro de 2006].

Fontes principais
Thelma Linhares, “Superstições no futebol brasileiro”, em http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/historia/0027.html
Vicente Cascione, “O Cãozinho Biriba”, em A Tribuna, suplemento AT Revista, 22 de Janeiro de 2006
http://www.futebolimaginario.com.br/index.php?sec=historiaFutebol&opc=historiasPitorescas


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Carlito Rocha e Aloísio Roupeiro


por César Maia
Blogue, em 29 de Junho de 2009

1. O neto do Dr. Ademar Bebiano havia nascido e o presidente Carlito Rocha [foto abaixo] foi visitá-lo em casa e levar um presente à mãe. Estavam todos na sala e o bebê no quarto com a babá. Carlito Rocha chamou Bebiano à parte e lhe disse: – “Como é que você deixa a criança sozinha no quarto com a babá, sem ninguém por perto?” – “Mas por quê?”, disse Bebiano. – “Cuidado! Muito cuidado, Bebiano. Essas babás são todas Flamengo...”


2. Aloísio – roupeiro – era como uma aglutinação de todas as superstições do Botafogo. Além das superstições rotineiras, como repetir camisas, calças, ficar na mesma posição e com as mesmas pessoas da vitória anterior, Aloísio tinha vidências e as aplicava e era fielmente seguido. Na final do Campeonato de 1962 (veja no youtube http://www.youtube.com/watch?v=83wKuNloEWI&feature=related), Aloísio em pleno domingo de sol, disse que tinha tido uma visão e que o Botafogo teria que jogar de camisas de mangas compridas. Assim foi. O Botafogo venceu de 3 a 0 em dia milagroso de Garrincha.

3. Em 1963 o Botafogo disputou com o Santos – numa melhor de três – a final da Taça Brasil. A primeira partida em 19/03 foi na Vila Belmiro e o Santos venceu por 4 x 3. A segunda no Maracanã em 31/03, o Botafogo venceu de 3 a 1. A finalíssima no Maracanã foi dois dias depois, em 02/04. Aloísio chegou no vestiário e disse que tinha tido uma visão. O Botafogo não jogaria aquele jogo com as tradicionais meias cinzas. Aloísio, nessa visão, descobriu que as tabelinhas Pelé-Coutinho eram produto das meias brancas do Santos. Eles olhavam apenas para as canelas um do outro e tabelavam com tanta facilidade em função das meias brancas. Aloísio entregou aos jogadores meias brancas iguais as do Santos e pediu que só vestissem na hora de entrar em campo. Assim foi. Mas dessa vez não deu certo. O Santos venceu de 5 a 0. Aloísio não voltou para o vestiário.


4. A parceria de Carlito Rocha e Aloísio Roupeiro [foto acima] era a garantia das vitórias. Carlito mandava Aloísio amarrar as cortinas da sede de General Severiano nos dias de jogos. Em 1948 numa partida contra o Olaria esse surpreendia marcando 3 a 1. Carlito pediu que Aloísio fosse a sede checar as cortinas e pagou o taxi. Realmente o servente havia desamarrado as cortinas. Quando Aloísio voltou a partida já estava 3 a 3. Carlito bateu nas costas do Aloísio e disse: – “Agora vamos ganhar. Minutos depois o Botafogo fazia 4 a 3”.

[Acréscimos: Paulo César, leitor e amigo do blogue Mundo Botafogo, esclarece o seguinte: 1) O jogo da final em 1962 foi num sábado e não estava sol e sim um mormaço senegalês e os caras jogaram de mangas longas!!! Só o Botafogo mesmo. 2) O jogo das meias brancas não foi na Taça Brasil e sim na Libertadores de 1963 e o placar não foi muito diferente, 4(3)x0 com um sonoro baile do negão (para variar).]

Fonte: Rui Moura - Mundo Botafogo/Estrela solitária
Postagem original em Mundo Botafogo: http://mundobotafogo.blogspot.com/2009/09/carlito-rocha-e-aloisio-roupeiro.html